Jornalista analisa cinema nacional a partir do olhar da crítica

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 23/09/2018 às 13:22.Atualizado em 10/11/2021 às 02:36.
 (JÚNIOR ARAGÃO/DIVULGAÇÃO)
(JÚNIOR ARAGÃO/DIVULGAÇÃO)
Em 2001, após cinco anos assinando críticas de cinema no “Jornal do Commercio”, o pernambucano Luiz Joaquim da Silva Júnior percebeu que, naquele momento, o ofício passava por uma perturbadora consonância em relação ao cinema brasileiro. “Era tudo muito igual, no país inteiro. Não havia uma pluralidade de ideias, como acontecia nos textos sobre filmes estrangeiros”, lembra o professor e jornalista.
 
Incomodado com a situação, ele começou a pesquisar as razões de os críticos repetirem praticamente o discurso sobre a produção nacional. O resultado virou uma dissertação de mestrado e, agora, ganhou a forma de livro, sob o título “Cinema Brasileiro nos Jornais – Uma Análise da Crítica Cinematográfica na Retomada”, lançado pela editora Massangana no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, encerrado ontem.
 
A partir do material publicado em diversos jornais do país, principalmente “O Estado de S.Paulo”, “Zero Hora” e “Jornal do Commercio”, Silva Júnior “encontrou situações bem específicas que refletem três períodos, cada um balizado no livro por filmes de sucesso”. O primeiro é “Carlota Joaquina” (1995), de Carla Camurati, seguido por “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, e “Cidade de Deus” (2002), de Fernando MeirelleA ideia de “Retomada”, usada pelo autor, é referente ao boom comercial que a produção cinematográfica brasileira teve a partir da segunda metade dos anos 90, com o sucesso de bilheteria de filmes como “Carlota Joaquina” (1995) e “Central do Brasil” (1998)
 
“No primeiro momento, o que identifico é que, entre a fase brava do cinema na era Collor, em que quase nada se produziu, e o lançamento do filme de Camurati, a crítica não pôde exercer o seu trabalho em relação ao cinema brasileiro. Como se tivesse perdido a mão na busca de uma análise equilibrada”, registra. 
 
A maior parte dos textos, levanta o livro, é dedicada a encontrar um motivo para o sucesso de público de “Carlota Joaquina”. “O filme ganhou uma vida própria, levando mais de um milhão de espectadores ao cinema. A critica brasileira começou a atribuir aos textos elementos de ‘vontade da verdade’, conceito de Michel Foucault, para quem o discurso da loucura sempre está querendo invadir, em algum momento, o discurso da razão. Para os críticos, os filmes não valiam muita coisa, mas a loucura estava na adesão do público”, assinala Silva Junior.
 
Mercado
Coordenador do curso de cinema e audiovisual das Faculdades Integradas Barros Melo, em Olinda, cidade da Região Metropolitana de Recife, o professor destaca que, invariavelmente, os textos falavam do interesse do público, sem se debruçar com maior profundidade sobre os filmes. “Havia uma proporção absurda em que a questão mercadológica predominava sobre a análise estética”, pondera.
 
Com “Central do Brasil”, que foi indicado ao Oscar de melhor estrangeiro e de melhor atriz (Fernanda Montenegro), as críticas passaram a referendar a carreira internacional dos filmes. 
 
No caso de “Cidade de Deus”, concorrente em quatro categorias do prêmio máximo da indústria do cinema americano, os textos voltaram a ganhar consistência, agregando não apenas aspectos estéticos como sociais também.
 
“O trabalho de Meirelles fez um rebuliço na sociedade, sendo o primeiro filme da Retomada a envolver o espectador de maneira sanguínea, como há muito tempo não se via no cinema nacional”, sublinha. 
 
Para o professor, fica muito claro a evolução dos filmes e da crítica nacional no período. “Os filmes ficaram mais elaborados e a crítica acompanhou esse movimento, o que é muito bom para os dois”, completa.
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